Lyudmila se enxugou as mãos no avental e prestou atenção.
A porta da entrada bateu — Vasily havia voltado do trabalho mais cedo do que o habitual. Estranho.

Às quintas-feiras, ele geralmente ficava mais tempo nas reuniões.
— Lyud, você está em casa? — a voz do marido soava diferente do normal.
— Estou na cozinha — respondeu ela, desligando o fogão e tampando a frigideira.
Vasily entrou lentamente, sem o habitual “o que tem para o jantar?”. Parou em frente à mesa, sem se sentar.
Deixou as chaves do carro sobre a mesa. Lyudmila entendeu imediatamente.
Era o momento que ela temia nos últimos seis meses.
— Precisamos conversar — Vasily olhava além dela.
— Fale — Lyudmila se enxugou as mãos novamente, embora já estivessem secas.
— Conheci outra mulher. Nós… é sério entre nós.
Lyudmila sentiu como se algo dentro dela tivesse se quebrado. Trinta e dois anos juntos.
Construíram a casa do zero. Criaram os filhos. E tudo assim, simplesmente?
— Sério? — conseguiu apenas dizer.
— Sim. Vou me mudar para a casa dela por um tempo. Depois decidiremos sobre a casa.
— Sobre qual casa? — Lyudmila não reconhecia a própria voz.
— A nossa, é claro. Teremos que dividir os bens — finalmente Vasily olhou nos olhos dela.
— Pensei em tudo. Você entende, o dinheiro principal da construção foi meu. Você trabalhava meio período.
Lyudmila olhava para aquele homem estranho e não podia acreditar.
Será que era o seu Vasya? Aquele com quem tinham colocado o telhado na chuva? Com quem tinham colado o papel de parede até às três da manhã?
— Você tem noção do que está dizendo?
— Lyud, sem histeria. Estou sendo honesto, avisando você. Não estou sumindo às escondidas.
— Que generosidade! — de repente, sentiu raiva. — E quando?
— Quando o quê?
— Quando você vai embora?
— Amanhã. Olga está esperando. Ela é minha colega, você não a conhece.
— Conheço — respondeu Lyudmila baixinho — pelo cheiro do perfume dela nas suas camisas.
Vasily se mexeu, mas ficou em silêncio. Tirou um cigarro.
— Não fume dentro de casa.
— Céus, Lyud, que diferença faz agora? — mas guardou o maço.
Quando ele foi pegar suas coisas, Lyudmila se sentou em uma cadeira e apenas olhou pela janela.
No quintal, que tinham arrumado juntos, a cerejeira já estava florescendo.
No ano passado, Vasily queria cortá-la — atrapalhava, dizia ele, fazia sombra nas hortas. Lyudmila insistiu para salvá-la.
— Vou pegar só algumas coisas — a voz do marido a trouxe de volta à realidade.
— O resto eu pegarei depois, quando decidirmos sobre a casa.
— Decidiremos — respondeu ela em eco.
Quando a porta se fechou, Lyudmila subiu lentamente para o segundo andar.
No quarto, ainda cheirava a colônia de Vasily. Na cama — uma colcha amassada, a marca da mala. Lyudmila abriu a janela completamente.
— Que idiota eu sou, Lyuda — disse para si mesma. — Como pôde acontecer isso?
Ela se ajoelhou diante da cômoda e puxou completamente a gaveta de baixo.
Atrás, em um recuo na parede, havia uma velha pasta de couro com documentos.
Aquela que Vasily havia esquecido há muito tempo. Mas ela não.
Lyudmila pegou os papéis amarelados e encontrou a folha certa. Abriu-a. “Contrato de doação”.
Vasily a havia assinado oito anos antes, quando se preparava para uma viagem de trabalho perigosa.
“Por precaução” — disse na época. Metade da casa pertencia oficialmente a ela.
Lyudmila apertou o documento contra o peito e pela primeira vez naquela noite sentiu que podia respirar.
A história ainda não havia acabado. Não como Vasily havia planejado.
Uma semana depois, Vasily ligou ele mesmo.
— Lyud, precisamos nos encontrar. Falar sobre a casa.
— Venha — Lyudmila tentou falar calmamente — quando?
— Posso hoje, depois do trabalho.
À noite, o carro dele parou no portão. Vasily entrou em casa como se tivesse voltado do trabalho normalmente. Lyudmila notou a camisa nova e o corte de cabelo.
— Quer chá? — ela perguntou.
— Sim — ele se sentou à mesa e olhou a cozinha. — Aqui está tudo como antes.
— E o que deveria ter mudado em uma semana?
Vasily deu de ombros e tirou um bloco de notas.
— Pensei sobre a casa. Nós a construímos juntos no casamento, então deve ser dividida ao meio. Mas considerando que investi a maior parte do dinheiro…
— E então? — Lyudmila colocou a xícara à frente dele.
— Seria justo que ficasse com dois terços.
Lyudmila quase riu.
— E a sua Olga, o que acha da nossa casa?
Vasily fez uma careta.
— Que relação tem Olga? São assuntos nossos.
— E vocês vão morar juntos?
— Sim. Por enquanto na casa dela, depois veremos.
— “Veremos” — repetiu Lyudmila. — Vasy, você já achou um notário? Para a divisão?
— Sim, tem um bom. Um conhecido me recomendou.
— Me passe o número, vou ligar para esclarecer os detalhes.
Vasily olhou para a esposa surpreso.
— Você quer se livrar da casa tão rápido assim?
— Não. Só quero esclarecer as coisas.
À noite, Lyudmila olhou para o telefone por muito tempo. Depois ligou para uma amiga.
— Tanya, oi. Preciso de um conselho sobre documentos.
— Lyud? Aconteceu algo?
— Vasya foi embora. Com a jovem.
Tanya ficou em silêncio.
— Que idiota. Me desculpe, mas… idiota.
— Ele quer dividir a casa. Diz que quer dois terços para ele.
— E quais documentos você tem?
— A doação da metade da casa. Feita há oito anos.
— Ótimo! Ele esqueceu dela?
— Parece que sim.
Dois dias depois, Vasily voltou. Desta vez com notícias.
— Lyud, eu e Olga conversamos. Ela não se opõe a você morar aqui por um tempo. Até vendermos.
— Vender?
— Sim. Dividiremos o dinheiro e cada um seguirá seu caminho.
Lyudmila balançou a cabeça.
— Vasy, não vou a lugar algum. E não vou vender a casa.
— Como assim? — ele franziu as sobrancelhas. — Você vai brigar comigo?
— Não. Só quero ficar na minha casa.
— Na nossa casa — corrigiu Vasily — eu vou decidir o que fazer com ela.
— Decidiremos juntos — sorriu Lyudmila. — Amanhã, às duas, no cartório. Aqui está o endereço.
Quando ele saiu, ela pegou a pasta com os documentos. Interessante ver a cara dele quando notar a própria assinatura? pensou Lyudmila, e pela primeira vez em duas semanas, sorriu de verdade.
Durante a noite, ela sonhou com a antiga casa deles. Aquela de onde tudo começou.
Minúscula, com fogão à lenha e pisos rangentes.
Vasya dizia na época: “Aguenta, Lyuda, vamos construir uma nova casa — vamos viver bem!”
Eles construíram. Viveram bem. E agora…
O cartório recebeu Lyudmila com um ar fresco e cheiro de papel.
Ela chegou quinze minutos mais cedo — queria organizar os pensamentos. Uma jovem secretária sorriu para ela:
— Vem pelo Sergey Pavlovich? Por aqui, ele já está na sala.
O notário era um homem de cerca de sessenta anos, com olhar atento.
— Lyudmila Nikolaevna? Sente-se, por favor. Seu marido ainda não chegou.
— Ex-marido — corrigiu Lyudmila, tirando a pasta de documentos. — Queria mostrar antes.
O notário examinou os papéis e assentiu:
— Tudo certo. O contrato de doação está correto. Metade da casa pertence a você sem dúvida alguma.
— E ele pode contestar?
— Teoricamente, sim. Na prática — quase nenhuma chance. Sua assinatura, o registro oficial…
A porta se abriu. Vasily entrou com passo confiante. Atrás dele, uma jovem mulher em traje formal.
— Olga? — Lyudmila se surpreendeu. — Por que você a trouxe?
— Olga é advogada — respondeu seco Vasily — vai nos ajudar a resolver a situação.
O notário arqueou uma sobrancelha, mas permaneceu em silêncio.
— Boa tarde — Olga sentou-se ao lado de Vasily — pelo que entendo, trata-se da divisão dos bens do casal?
— Exatamente — assentiu Vasily. — A casa foi construída durante o casamento, mas a contribuição principal foi minha.
Lyudmila observava em silêncio o casal. Olga era bem cuidada, confiante, cerca de vinte anos mais jovem que ela. Cabelo impecável, unhas perfeitas, olhos atentos e avaliativos.
— Sergey Pavlovich — Lyudmila se dirigiu ao notário — por favor, mostre os documentos.
O notário colocou os papéis sobre a mesa:
— Vasily Petrovich, este é o contrato de doação de 2015. Sua assinatura. Segundo ele, você transferiu voluntariamente metade da casa para a esposa.
Vasily olhou para o documento. Seu rosto mudou lentamente: surpresa, reconhecimento, raiva.
— Que… Lyuda, você me fez assinar este papel?
— Lembra você mesmo. Antes da missão na Sibéria. Você disse: “Para qualquer eventualidade”.
Olga pegou o documento e o folheou rapidamente.
— Isso muda tudo — endireitou-se. — Vasily, por que não disse nada?
— Esqueci! Passaram-se oito anos!
— Esqueceu que deu metade da casa para sua esposa? — Olga olhou para ele com desconfiança.
Vasily se levantou de repente:
— Lyuda, você armou tudo! Ficou em silêncio de propósito!
— E você esqueceu de propósito? — perguntou Lyudmila em voz baixa. — Ou simplesmente não achou que eu guardaria?
— Senhores — interveio o notário — sem emoções. Legalmente, a situação está clara: metade da casa pertence a Lyudmila Nikolaevna.
— Vasya, acalme-se — Olga colocou a mão no ombro dele — não é uma tragédia. Vocês podem vender a casa e dividir o dinheiro.
— Não vou vender — disse Lyudmila com firmeza — esta é minha casa.
— Nossa casa! — gritou Vasily.
— Aquela que você queria tirar de mim — Lyudmila levantou a voz pela primeira vez — “meu dinheiro, meus investimentos”… e os meus trinta anos de vida, onde ficam?
Olga franziu o cenho e se afastou de Vasily.
— Preciso ir trabalhar — levantou-se. — Vasily, falamos depois.
Quando a porta se fechou atrás dela, o escritório ficou em silêncio.
— De qualquer forma, não vai acabar tão facilmente — resmungou Vasily.
Lyudmila reuniu seus documentos.
— Sabe, Vasya, por trinta e dois anos tive medo de te contrariar. Tentava te agradar. E agora… não me importa mais o que você pensa.
Ela saiu do cartório e respirou fundo. O sol de primavera aquecia seu rosto. Pela primeira vez em muitos anos, Lyudmila se sentia… livre.
Três meses se passaram.
Lyudmila tomava chá na varanda, observando os últimos raios de sol dourarem os macieiras.
Antes, raramente se permitia esses momentos — sempre havia tarefas, limpeza, cozinha.
Agora ela havia aprendido a parar e simplesmente aproveitar o momento.
O telefone tocou inesperadamente. Vasily. Lyudmila suspirou e atendeu:
— Sim, estou ouvindo.
— Lyud, precisamos nos encontrar — a voz soava cansada — há algo para conversar.
— Venha se quiser — agora ela não tinha mais medo desses encontros.
À noite, a portinha rangeu. Vasily apareceu diferente — emagrecido, abatido.
Sem a habitual autoconfiança.
— Entre — Lyudmila indicou uma cadeira — o que aconteceu?
Vasily se sentou, passando a mão pelo rosto.
— Acabou com Olga.
— Entendo — Lyudmila não sentiu nem satisfação nem compaixão. Apenas um fato.
— Ela… encontrou opções melhores.
— E agora?
Vasily ficou em silêncio por muito tempo.
— Pensei… talvez possamos tentar novamente? Tantos anos juntos. Acontece de tudo.
Lyudmila o olhou sem reconhecê-lo. Onde estava aquele Vasily que comandava e decidia por ambos?
Diante dela, havia um homem confuso, que perdera o chão sob seus pés.
— Não, Vasya — balançou a cabeça — é tarde demais.
— Lyud, eu sei que errei…
— Não se trata de culpa. Eu simplesmente sou outra pessoa agora. E estou… bem assim.
Vasily olhou ao redor. Nas paredes, fotos novas — Lyudmila com amigas, com netos.
— E eu, onde moro, você sabe?
— Não.
— Alugo um quarto. No meio do nada.
Lyudmila deu de ombros:
— Você tem sua metade da casa. Pode vender, comprar um apartamento.
— Sem seu consentimento, não vendo. E não tenho dinheiro — tudo foi para Olga.
Lyudmila se levantou e se serviu mais chá.
— E o que você propõe?
— Talvez eu pudesse ficar aqui? No quarto de hóspedes?
— Não — respondeu firme — não é mais nossa casa. É minha casa.
No rosto dele passou uma irritação familiar.
— Você está se vingando, não é?
— Eu vivo, Vasya. Sem olhar para trás. Pela primeira vez em trinta e dois anos.
Ele ficou em silêncio por um longo momento, depois assentiu:
— Tá bom. Então eu vou.
Na portinha, Vasily se virou:
— Sabe, você mudou, Lyud.
— Eu sei — ela sorriu.
Quando ele se foi, Lyudmila voltou para a varanda. Pegou o telefone e discou um número.
— Tanya, oi! Que tal irmos ao teatro no sábado?
— Eu topo! E o seu apareceu?
— Sim, acabou de passar aqui.
— E?
— Queria voltar.
— E você?
— Eu não quero voltar ao passado.
Lyudmila colocou o telefone de lado e fechou os olhos. O verão estava à frente. Planejava reformar o quarto e fazer uma viagem ao mar.
Uma semana depois, chegou uma carta do cartório. Vasily renunciava a qualquer reivindicação. Lyudmila sorriu.
No final do mês, ela assinou todos os documentos. A casa pertencia totalmente a ela.
À noite, Lyudmila saiu para o jardim, caminhou pelos caminhos e tocou o tronco áspero de uma macieira.
— Pronto — disse em voz alta — agora é realmente minha.
Da casa vizinha vinha música. Lyudmila escutou — uma velha canção da juventude.
De repente, percebeu que estava dançando um pouco como uma menina. E riu.
Aos cinquenta e sete anos, a vida não termina. Ela apenas começa — quando finalmente você entende seu próprio valor.
E que nunca é tarde demais para começar a viver para si mesma.
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