🔴 Aos quarenta anos, Gábor era conhecido como um empresário de sucesso – um tipo calmo e confiante.
Ele não fazia distinção entre ricos e trabalhadores comuns, nunca enganava seus parceiros de negócios e se mantinha longe de fraudes.
As pessoas confiavam nele.
Só o nome “Gábor” já era suficiente para um negócio começar bem.
Com todo o dinheiro e sua personalidade tranquila, ele era realmente um bom partido para as mulheres.
Ele herdou o capital inicial de seu velho pai, que lhe ensinou tudo – os valores, o bom gosto, os modos.
Gábor sentia muita falta do pai – foi ele quem o criou sozinho.
Gábor não tinha outros parentes.
O pai já havia falecido há muito tempo.
Gábor vivia bem, podia ter tudo o que sonhava.
Sua reputação o precedia, e por onde andava as portas se abriam para ele.
Tinha uma mansão de vários andares com jardim e piscina, alguns apartamentos na capital e vários carros.
Não lhe faltavam amigos – companheiros fiéis e confiáveis.
A única coisa que não parecia dar certo era sua vida amorosa.
Ele havia se casado uma vez, mas após alguns anos o divórcio foi doloroso.
Descobriu que a esposa o havia traído – ela sempre se deixava encantar por homens, e quando algum era insistente demais, ela não conseguia resistir.
Eles se conheceram quinze anos antes, em um concurso de beleza.
Muitas mulheres estavam lá em busca de um marido rico.
Foi ali que Gábor escolheu sua esposa.
Quem sabe com quantos homens ela o traiu durante o casamento?
Ela nunca foi uma esposa exemplar – gastava dinheiro com futilidades, roupas e aparência.
Durante o divórcio, enlouqueceu Gábor – tentou arruinar sua reputação, o caluniou e exigiu uma grande quantia para desaparecer da vida dele.
No fim, ele cedeu, pois não tinha mais forças nem vontade de lutar.
Aquela traição deixou um grande vazio no coração de Gábor.
Ele não tinha mais esperanças de encontrar a mulher certa – aquela com quem pudesse construir um relacionamento verdadeiro baseado em respeito e cuidado.
Muitas mulheres passaram por sua vida, mas nenhuma se encaixava na imagem que ele tinha de uma esposa fiel e mãe de seus filhos.
Mesmo assim, ele desejava um herdeiro – uma criança para herdar tudo o que construiu e a quem pudesse amar.
Certa noite, voltando do trabalho, foi surpreendido por uma mulher que pulou na frente do carro para pegar um gatinho na rua.
Gábor freou bruscamente e virou o volante para não atropelá-la.
Ele nem tinha notado o gato, então não teria parado de outra forma.
– Você está maluca?! Por que pulou na frente do carro?! – gritou, assustado, com o coração disparado.
A moça estava deitada de lado, segurando o gatinho com força.
– Desculpa, – disse ela entre lágrimas. – O gatinho estava ali, e eu tive medo que você o atropelasse. Não pensei, só agi.
– Você está bem? Se machucou? – ele saiu do carro e foi até ela.
Ela era pequena, frágil, mas não era uma menina.
Provavelmente tinha uns dez anos a menos que ele.
Os olhos estavam vermelhos de tanto chorar, e era visível que estava assustada.
– Venha, vou te levar pra casa, – disse Gábor. – Antes que você faça outra loucura dessas.
Ela aceitou.
Começaram a conversar no caminho.
Seu nome era Dóra, trabalhava em uma floricultura, amava a natureza, design de interiores e – como se viu – era uma apaixonada por animais.
Gábor se sentiu subitamente livre.
Brincava, ria – e Dóra respondia, sorria, conversava como se se conhecessem há anos.
Gábor não se sentia assim havia muito tempo – era como se tivesse vinte anos de novo.
Quando chegaram à casa dela, Gábor perguntou:
– E se nos encontrássemos de novo? Podíamos sair…
Dóra sorriu, mas respondeu:
– Desculpa… Acho que não é uma boa ideia. Mas obrigada por me trazer.
Gábor não desistiu.
No dia seguinte, descobriu onde ela trabalhava e enviou uma enorme caixa de presente.
Dentro havia um vestido de renda preta, salto alto e um colar delicado e brilhante.
Acompanhava um bilhete:
“Se eu puder te ver de novo, valeu a pena ter freado naquela noite. – Gábor”
E o coração de Dóra se derreteu.
O encontro foi especial.
Ele a levou ao restaurante mais prestigiado, mas mesmo que tivessem sentado em um banco no parque, teria sido inesquecível.
Depois disso vieram outros encontros – pequenas surpresas, risadas, passeios e carinhos.
Para Gábor, Dóra era um milagre.
Alguns meses depois já moravam juntos, logo se casaram e tiveram um filho, Levente.
Dóra ficou em casa com o menino, e Gábor voltava feliz para eles todas as noites.
Jantavam juntos, e nos fins de semana passeavam no jardim.
Tudo parecia perfeito.
Passaram-se cinco anos felizes e cheios de amor.
Gábor sentia que, finalmente, tudo estava no lugar: uma família, uma casa, paz.
Mas um dia algo mudou.
Dóra começou a sumir por dias.
Às vezes dizia que estava na casa de uma amiga, outras vezes que tinha que trabalhar até mais tarde.
Gábor tentou confiar por um tempo.
Mas a dúvida começou a se infiltrar aos poucos e de maneira traiçoeira em seus pensamentos.
Ele já não conseguia afastá-la.
Toda vez que ela se atrasava, sua mente era invadida por imagens perturbadoras.
E, como já havia sofrido uma traição, não demorou para que os receios se tornassem certezas.
Por fim, contratou um detetive particular.
– Sou Sándor, discreto, mas minucioso, – disse o investigador baixo e bigodudo, com o olhar de quem já vira três divórcios naquele dia.
Poucos dias depois, Sándor voltou com seu relatório.
– Sua esposa vai pelo menos duas vezes por semana até uma casinha nos arredores da cidade, – começou. – Sempre com o mesmo motorista de táxi.
A casa está meio abandonada, deteriorada, sem placa nem caixa de correio.
O coração de Gábor apertou.
Ele não conseguia acreditar que Dóra estivesse traindo.
Mas havia fotos, horários, trajetos.
Tudo parecia incrivelmente preciso.
Ele tomou uma decisão: no dia seguinte, levaria Dóra até lá pessoalmente.
Alugou o carro do taxista, fez uma maquiagem profissional, trocou de roupa e até mudou a voz.
Quando se olhou no espelho, assustou-se – parecia mesmo o taxista.
Na manhã seguinte, Dóra entrou no carro.
Nenhuma palavra foi dita.
Ela não o reconheceu.
Ao chegar à casa, ela desceu rapidamente e entrou.
Gábor esperou um minuto – depois entrou com tudo, pronto para flagrar o “amante”.
Mas o que viu o deixou sem palavras.
Dóra estava ajudando uma idosa a se levantar da cama.
Trocava os lençóis, enchia o copo de água, falava com carinho.
– Gábor?! – exclamou Dóra, surpresa. – O que está fazendo aqui?
– Eu… eu só… – gaguejou ele, olhando para a senhora na cama. – Achei… que você estivesse vendo outra pessoa.
Dóra largou o travesseiro e virou-se para ele.
– Você achou que eu tinha um amante?! Que saía para isso? – perguntou, magoada. – Confia tão pouco em mim assim?
– Me desculpa… – sussurrou Gábor. – Você sabe o que passei com Eszter… É difícil não ter medo.
– Então deixa eu te apresentar alguém, – disse Dóra, sorrindo para a idosa. – Esta é a vovó Vera.
A mãe do meu pai.
Ela me criou depois que meus pais morreram.
É a única família que me resta.
– Muito prazer, meu filho, – disse a senhora com ternura. – Achei que nunca mais veria Dóra com uma família de verdade.
E agora ela tem até um netinho, não é?
– Levente, – assentiu Gábor.
– Um diabinho, – completou Dóra com um sorriso, – mas tenho certeza de que você vai adorá-lo.
– Mas por que nunca me contou? – perguntou Gábor.
Dóra abaixou a cabeça.
– Eu tinha vergonha.
Achei que, se soubesse que eu cuidava dela, pensaria que eu só queria te sobrecarregar.
Que eu só queria o seu dinheiro.
Você é um homem tão rico, importante… e eu sou só uma florista que resgata gatos de rua.
Gábor se aproximou e a abraçou com ternura.
– Não diga bobagens.
Ela é sua família, – disse com firmeza. – A partir de hoje, vai viver conosco.
Nós três juntos.
E assim foi.
Vovó Vera mudou-se para a mansão em Buda.
Ganhou um quarto só para ela, claro, cheio de flores e memórias.
Recebia ajuda sempre que precisava, mas Dóra estava sempre por perto.
Levente a adorava – muitas vezes ficavam juntos na varanda, acariciando o grande gato de quem tudo começou.
Gábor nunca mais teve dúvidas.
Sabia que aquela era a mulher que sempre procurou: leal, carinhosa, corajosa e infinitamente adorável.
E entendeu que a vida às vezes nos testa – mas, se tivermos sorte, perceberemos que por trás de todo ciúme e dúvida se esconde uma verdade muito mais bonita.